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Os Lusíadas de Luís de Camões contados aos jovens
Era uma vez um povo de marinheiros e de heróis, o povo português, que, no século XV, quis descobrir o caminho marítimo para a Índia. Aos olhos dos europeus, esta era uma terra de riqueza e esplendor, mas demasiado longínqua.
Em 1497, quatro naus comandadas por Vasco da Gama lançaram-se ao mar, percorreram o Atlântico e dobraram o Cabo da Boa Esperança.
O vento era brando e o mar calmo. Durante algum tempo, a viagem decorreu sem incidentes, mas os perigos eram constantes e a travessia arriscada. Ninguém sabia ao certo o rumo a seguir.
Na costa de Moçambique, os barcos rasgaram a espuma branca das ondas. A Índia estava longe, mas os sábios e marinheiros acreditavam que, se a coragem não os abandonasse, seria aquele o caminho a seguir. Os deuses, porém, ainda não tinham decidido se deviam ou não deixá-los triunfar.
Júpiter, pai de todos os deuses; Vénus, deusa do Amor; Baco, deus do Vinho; Marte, deus da Guerra; Apolo, deus da Luz e da Beleza; Mercúrio, deus do Comércio e dos Viajantes; e Neptuno, deus do Mar, juntaram-se para decidir se prestariam ou não auxílio aos Portugueses.
Vénus e Marte desejavam protegê-los, Mercúrio considerava que tinham valor e coragem, mas Baco, que outrora tivera grande poder na Índia, não aceitava a ideia de que os Portugueses se tornassem senhores do Oriente.
Quando o concílio dos deuses terminou, já as naus portuguesas se encontravam no oceano Índico, onde se sabia estarem vulneráveis às armadilhas e ciladas do vingativo Baco.
Quando chegaram a Moçambique para se reabastecerem, Vasco da Gama recebeu um chefe mouro da ilha. Confiante, contou-lhe os seus intentos. O xeque, ao ver as armas que transportavam e crucifixos a bordo, apercebeu-se que os viajantes não veneravam o seu deus. Disfarçou o ódio e disse que lhes cederia um piloto competente, que os conduzisse ao destino.
Baco disfarçou-se de mouro e segredou intrigas ao ouvido do xeque, aconselhando-o a montar uma cilada que colhesse os Portugueses de surpresa quando fossem a terra abastecer-se de água fresca, frutas e legumes.
Quando os Portugueses desembarcaram na praia mais próxima, foram atacados. Defenderam-se, porém, com grande coragem. No momento em que se começou a ouvir o som da artilharia montada nos batéis, os mouros entraram em pânico, porque o estrondo não se assemelhava a nada que tivessem ouvido antes. Assustados, fugiram para o mar e para o meio do arvoredo e da vegetação luxuriante e alta.
O chefe da ilha propôs, então, uma paz fingida. O piloto que cedeu aos Portugueses tinha como missão encaminhá-los para a ilha de Quíloa, onde os aguardava maiores perigos. No entanto, as caravelas de Vasco da Gama foram afastadas pelo vento para longe da ilha. Vénus tinha implorado a Mercúrio que os encaminhasse para um porto seguro.
Iludidos pelas palavras do piloto mouro, rumaram para Mombaça. Quando ali chegaram, Vasco da Gama mandou a terra dois marinheiros experientes para depois o informarem sobre os costumes e a religião dos habitantes da ilha.
Os mouros de Mombaça trataram os marinheiros com aparente bondade e simpatia, pois Baco, para os ludibriar, tinha-se disfarçado de sacerdote cristão, mas Vénus, recorrendo à força da maré, arranjou maneira de empurrar as naus portuguesas para longe do porto, evitando que os seus protegidos caíssem noutra cilada.
BIBLIOGRAFIA
BARROS, João de - Os Lusíadas de Luís de Camões contados às crianças e lembrados ao povo. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1973.
LETRIA, José Jorge - Os Lusíadas. Oficina do Livro, 2009.
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Os Lusíadas de Luís de Camões contados aos jovens
Juntam-se os deuses em concílio
Os deuses reúnem-se num concílio para decidirem que sorte hão-de dar aos Portugueses navegantes que procuram no mar aquilo que outros, desde os romanos aos mouros, só conseguiram encontrar em terra.
Júpiter, pai de todos os deuses, considera que os Portugueses, por serem corajosos e determinados, devem ser protegidos. Sabe que eles são capazes de levar ainda mais longe os feitos dos povos antigos, mas Baco não é da mesma opinião. Vira-se contra os Portugueses e também contra a bela Vénus, sua irmã.
— No que de mim depender, eles não hão-de chegar ao seu destino, essa Índia tão distante, porque tudo o que foi grande e glorioso já está cumprido e pertence à História — anuncia, em tom ameaçador.
Para os Portugueses não era suficiente o apoio de Vénus, pois só com Marte e Mercúrio do seu lado iriam conseguir dar com o caminho que os fizesse chegar sãos e salvos às longínquas terras do Oriente.
Mercúrio toma o partido de Vénus, embora saiba que Baco nunca lhe perdoará essa escolha, e apoia os navegantes comandados por Vasco da Gama.
A respeito dos Portugueses, Mercúrio diz:
— Sobra-lhes o valor e a coragem já demonstrados nas batalhas contra os Romanos, os Mouros e os Castelhanos. Depois, quer o destino, a que chamarei «fado», que suplantem em glória os Assírios, os Gregos e os Romanos, senhores das glórias mais antiga. E bem merecem que assim aconteça, pois já mostraram ser capazes de vencer a força das marés, que poucas vezes encontraram de feição.
Baco não aceitava a ideia de que os Portugueses se tornassem senhores do Oriente, seu domínio desde sempre, e onde nunca tinham faltado poetas capazes de cantar o seu amor pelo vinho, pelas festas e pela riqueza abundante e fácil com que se compram as almas dos homens e os corpos das mulheres.
Quando o concílio dos deuses terminou, já as naus de Vasco da Gama se encontravam no oceano Índico, onde se sabia que, mesmo com o apoio de Júpiter, estariam sujeitos às armadilhas e ciladas do vingativo Baco, apostado em evitar que alcançassem a longínqua Índia.
Vénus, porém, que apreciava a «gente lusitana», por a achar doce e dedicada, disse a Marte e Júpiter:— Muito atenta vou ficar, para que o maldoso Baco não satisfaça os seus propósitos. Eu gosto desta gente e hei-de protegê-la.
LETRIA, José Jorge - Os Lusíadas. Oficina do Livro, 2009.
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